quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Destino Turístico Autorizado (DTA): Um poderoso instrumento para a captação de grupos de turistas chineses


O acordo entre a União Europeia e a China, que entrou em vigor recentemente, elege o espaço Shengen como destino turístico autorizado. As enormes potencialidades do mercado emissor chinês são de grande interesse para Portugal atenta a nossa vocação para o turismo, pelo que importa desenvolver ao nível político as medidas que permitam captar uma parte necessariamente ínfima, mas para nós representativa, desses fluxos turísticos.

1) A importância do mercado emissor chinês

A importância do mercado emissor chinês é muito significativa, tendo quadruplicado entre 1994 e 2001, cifrando-se em aproximadamente 12 milhões de nacionais que se deslocaram ao estrangeiro. Em 2002, 16,5 milhões de chineses realizaram uma viagem ao estrangeiro, número que em 2003 aumentou para 20,2 milhões de turistas. De harmonia com as previsões da Organização Mundial de Turismo, em 2020 o mercado emissor chinês será o quarto maior mundial, representando cerca de 100 milhões de turistas.

Este significativo incremento do número de turistas chineses decorre fundamentalmente de uma nova classe de empresários privados, professores e profissionais liberais, designadamente engenheiros e advogados, que trabalham para empresas estrangeiras ou em joint ventures. Embora representem tão somente 1% da população chinesa (13 milhões), aliam-se ao surgimento de uma classe média com a possibilidade de viajar anualmente para o estrangeiro – a médio prazo serão cerca de 39 milhões de pessoas –, a qual beneficia do nóvel direito a férias pagas com a duração de três semanas anuais.

Estes dados despertam naturalmente o interesse de países como Portugal, em que o turismo tem um papel significativo na economia e constitui, em termos de futuro, uma das suas mais promissoras actividades.

2) O acordo entre a União Europeia e a República Popular da China

Em 12 de Fevereiro de 2004 a União Europeia e a República Popular da China celebraram um importante acordo, que vigora desde 1 de Setembro do corrente ano, com o objectivo de facilitar a visita de grupos de turistas chineses aos Estados membros que integram o espaço Shengen.

A política de abertura do turismo chinês teve lugar na segunda metade dos anos noventa, operando-se simultaneamente o controlo da mobilidade dos cidadãos. No essencial, só os destinos que figuram na lista oficial podem ser objecto de promoção.

Antes da celebração deste acordo União Europeia/China (DTA) apenas a Alemanha, Hungria, Turquia e Malta beneficiavam, ao nível europeu, do estatuto de destino autorizado.

Face à enorme importância dos fluxos de turistas chineses para o estrangeiro a curto, médio e longo prazo e ao momento menos positivo atravessado pela nossa oferta turística, este acordo carece de uma exploração muito activa.

3) Alguns aspectos de pormenor e o papel insubstituível do nosso governo

As agências interessadas devem inscrever-se previamente numa lista que será transmitida às autoridades chinesas, existindo significativas alterações em matéria de promoção porquanto a publicidade sobre os destinos europeus pode agora ser directamente divulgada aos consumidores chineses.

No entanto, os operadores turísticos estrangeiros do espaço Shengen, designadamente os portugueses, não estão autorizados a promover directamente viagens para grupos de turistas chineses nem sequer a estabelecer simples representações dos seus serviços.

Este importante trabalho cabe, independentemente da imprescindível cooperação do sector privado, ao nosso Governo, que estou certo não deixará de desenvolver todas as iniciativas adequadas no sentido de sensibilizar para as riquezas turísticas e a diversidade do nosso país as autoridades chinesas, agências de viagens (estima-se que o mercado emissor chinês possa crescer em 2004 aproximadamente 25%), jornalistas e demais profissionais do sector. Neste campo é bastante interessante a acção da Maison de France em colaboração com associações e empresas. Estimando a possibilidade de uma célere duplicação do número de turistas chineses em França, organizou anualmente uma série de encontros para familiarizar agentes de viagens e jornalistas com a realidade turística francesa, tendo reforçado substancialmente, na sequência deste acordo, as suas iniciativas. Já em 2004, durante uma semana, quarenta e cinco operadores turísticos franceses trabalharam activamente com 600 profissionais do turismo chinês. A envolvente política foi considerável, transcendendo largamente a Maison de France: depois de ter convidado a China a apresentar a sua cultura em França em 2003/2004, 2005 será o ano internacional de França na China. Inaugurado pelo Presidente da República francês no passado mês de Outubro, decorrerá até Julho de 2005, o que naturalmente permitirá um reforço da imagem de França na China.

À nossa escala, de harmonia com os nossos recursos e expectativas, deveremos tomar as medidas adequadas para a defesa dos interesses do nosso turismo, com aquele savoir faire demonstrado recentemente em iniciativas de vulto como a Expo 98 ou o Euro 2004.

Turisver - Ano XIX - nº 625, 20 de Novembro de 2004